Não é todo dia que a ausência de resposta vira a parte mais forte de uma entrevista.
Era mais uma gravação como tantas outras. Luz ok, som ok, câmera no tripé. Eu já tinha feito aquela pergunta dezenas de vezes em projetos anteriores. Mas, naquela entrevista específica, a resposta não veio. O entrevistado apenas… travou.
Não desviou o olhar. Não tentou enfeitar o que sentia. Só respirou fundo e ficou em silêncio.
E eu fiquei ali, parado com a câmera rodando, sem interromper, sem preencher o espaço com outra pergunta. O silêncio durou alguns segundos — talvez dez, talvez trinta. Mas dentro de mim, aquele tempo se dilatou. Senti que algo muito verdadeiro estava acontecendo ali. Algo que não cabia em palavras.
Foi nesse momento que eu entendi: às vezes, o que a pessoa não diz… diz tudo.
Como documentarista, a gente aprende a escutar. Mas não é só escutar com os ouvidos. É escutar com os olhos, com a respiração do outro, com a pausa entre uma frase e outra. O corpo inteiro do entrevistado fala, mesmo quando a boca se cala.
Esse silêncio virou um dos momentos mais potentes daquele documentário. E me ensinou que, na narrativa visual, o silêncio não é ausência. O silêncio é presença. É densidade. É verdade nua.
Depois daquele dia, passei a tratar esses momentos com o respeito que eles merecem. Não corto, não apresso, não explico. Porque tem coisa que a palavra não dá conta. E tá tudo bem.
Se você trabalha com imagem, com áudio, com histórias — fica aqui a dica: nem tudo precisa ser dito. Às vezes, o silêncio é onde mora o que mais importa.
🎬 Quer construir narrativas com mais verdade?
Aprofundar a escuta e dar espaço para o silêncio pode transformar a sua forma de contar histórias. É ali que nasce a potência do real.
Marcello Barbusci
Documentarista e produtor audiovisual. Conecta pessoas e marcas a partir de histórias reais — com escuta, sensibilidade e uma câmera ligada.