Em um mundo onde a inteligência artificial pode escrever roteiros, criar vozes realistas e gerar rostos que nunca existiram… o que sobra para o documentário?
Essa pergunta vem assombrando muita gente — e com razão. Afinal, estamos vendo vídeos cada vez mais perfeitos sendo produzidos por linhas de código. A IA trabalha sem pausa, sem vaidade e sem medo de errar. Mas aí vem o ponto que não pode ser ignorado: ela também trabalha sem alma.
O documentário, ao contrário, não se limita a mostrar fatos. Ele escuta silêncios, observa o que não está no script, se comove com pausas que duram meio segundo a mais. Ele não apenas capta a realidade — ele a traduz com um olhar que é, ao mesmo tempo, técnico e visceral.
Há algo de insubstituível no momento em que uma câmera real encontra um olhar real. Um gesto fora do plano. Uma frase dita com a voz embargada. A IA pode emular emoção, mas não vivê-la. Pode montar uma história, mas não atravessar a experiência de contá-la.
Documentar é mais do que organizar imagens. É se deixar afetar.
Mas atenção: isso não significa que devemos virar as costas para o futuro. Muito pelo contrário.
A IA não é nossa rival. Ela pode — e deve — ser nossa aliada.
Ela pode ajudar na pesquisa, na organização de materiais, na tradução de entrevistas, na criação de storyboards, no refinamento de ideias e até na distribuição de forma estratégica. Com ela, ganhamos tempo. E com esse tempo, podemos mergulhar ainda mais fundo naquilo que só nós, humanos, conseguimos fazer: sentir e transformar.
O futuro do documentário não é sobre resistir à tecnologia.
É sobre integrá-la sem perder a essência.
A IA pode sim criar vídeos.
Mas contar histórias reais com verdade, ritmo e alma…
Isso ainda é (e por muito tempo será) tarefa para documentaristas.